Como criacionista, minha maior discórdia com os que advogam a macroevolução não resulta das diferenças diametrais entre as conclusões morais consequentes de cada uma dessas duas cosmovisões (tratarei dessas diferenças no fim do texto). Minha maior incompatibilidade com eles, incompatibilidade que por vezes beira a aversão, é de natureza argumentativa. Mais especificamente me refiro a um tipo de artifício por eles empregado ao formularem suas ideias. Como a evolução é aceita hoje como um fato, qualquer explicação que a tenha como partida apresenta boa possibilidade de ser aceita como verdade. A psicologia evolutiva é um caso típico – e escabroso.
Dia desses, eu falava a um amigo que não existe melhor ocupação que a de psicólogo evolutivo: não é preciso lá grande rigor técnico, basta que sua formulação, embora sem bases epistêmicas, apresente alguma coerência – e voilá! – o dogma evolucionista oferece o alicerce de justificação teórica, e a proposição psicológico-evolutiva ganha espaço em jornais, blogs e revistas.
Essa distorção lembrou minhas aulas de Metodologia Científica. Nosso professor era taxativo: “Lembrem-se sempre disso! Escrevam-no na testa e nas mãos! Em pesquisa científica, deve-se privilegiar o árido método em detrimento da aconchegante hipótese, mesmo quando aquele invalida essa!” Bingo, saudoso mestre!
Por isso, surpreende-me às vezes que um biólogo macroevolucionista busque testar suas hipóteses a partir de um estudo objetivo de campo em vez de tecer ilações a partir dos pressupostos do naturalismo filosófico contrabandeado no bojo da ciência.
Em outubro de 2005, o famoso zoólogo Desmond Morris, autor de livros como O Macaco Nu, falou ao jornalista Luis Amiguet, do La Vanguardia, na cidade de Barcelona. Seguem alguns trechos da entrevista traduzida e publicada na Folha On-Line (os destaques em negrito são de minha iniciativa):
LV: [O senhor] não tentou a poligamia habitual entre nossos irmãos primatas?
Morris: O homem na realidade é monógamo.
LV: Mesmo que guarde sua monogamia em segredo?
Morris: Você crê que é uma ironia, mas acaba de dizer uma grande verdade. Em muitas culturas o poderoso é obrigado a ser polígamo, porque a posse de muitas esposas é um sinal de status. Mas embora haja muitas concubinas sempre existe uma favorita: isso em pureza zoológica se chama monogamia.
LV: Ou seja, essa história de “duas mulheres ao mesmo tempo” é biologicamente improvável.
Morris: Pode haver duas mulheres ao mesmo tempo, mas na realidade há uma esposa e a outra. Sempre há uma que é A mulher. A outra tem um papel secundário que complementa mais ou menos o homem, mas seu investimento emocional, o homem o realiza só em uma mulher, uma companheira, embora :seja claro que esse lugar prioritário em seu afeto e sua economia possam ser ocupados por diversas mulheres sucessivamente.
LV: Por que somos seres de uma só mulher?
Morris: Porque só podemos nos ocupar realmente de uma prole, mesmo que possamos ter engendrado várias. E a natureza hierarquiza nossa dedicação para otimizar as possibilidades de êxito sucessório.
LV: Nunca houve um polígamo de verdade?
Morris: Eu e minha equipe de pesquisadores e antropólogos procuramos por todo o planeta pelo menos um caso de poligamia real, quer dizer, um polígamo que desse exatamente o mesmo tratamento a todas as suas fêmeas e aos descendentes que tivesse com cada uma.
LV: E...?
Morris: Não encontramos. Filmamos um famoso bruxo e cantor de rock nos Camarões que tinha chegado a colecionar 58 esposas...
LV: Deve ter sido terrível, coitado.
Morris: ...mas sempre tinha uma favorita.
LV: Ela. Sempre ela.
Morris: ...embora nosso bruxo roqueiro realizasse uma festa de casamento gigantesca cada vez que mudava de favorita.
LV: Como tantas celebridades do rock.
Morris: E todas as garotas do coro estavam casadas com ele! Na realidade era monógamo, mas para aparentar diante da tribo o pobre homem era obrigado a parecer polígamo.
LV: Extenuante.
Morris: A mesma coisa aconteceu com um rei do Taiti que pesquisamos: chegou a ter 28 esposas espalhadas pela ilha, cada uma em sua casa. Mas sempre havia uma com a qual passava mais tempo e cuja prole protegia com mais dedicação e recursos. O homem pode ter muitas companheiras, mas uma única dona.
*****
Apesar de discordar de partes dessa entrevista e do conjunto da obra de Morris, em especial do livro que ele divulgava à época, A Mulher Nua, não pude deixar de reconhecer-lhe a honestidade metodológica e também, por que não dizer?, sua honestidade moral. Embora encilhado com os arreios materialistas, a íntegra de sua entrevista é um maravilhoso encômio ao que possa haver de amor e pureza nas relações afetivas entre homens e mulheres.
Agora voltemos à fealdade destes nossos dias bicudos. Em Nuremberg, os acusados defendiam-se alegando estarem apenas cumprindo ordens. Imagino um adepto – sincero ou oportunista – das ideias de antropólogos como Jane Lancaster. Imagino o sujeito flagrado com as calças literalmente na mão: “Mas, meu bem, eu estava apenas cumprindo meu código genético!” Mais um pouco e estupradores vindicarão essa tese nos tribunais.
Certo, certo, nem todos os evolucionistas defendem a Síntese Evolutiva Moderna como jurisprudência biológica para a prática de atos socialmente reprováveis. Mas há um atrativo irresistível nas pretensões materialistas. Somando pragmatismo ao relativismo, o homem de hoje sente-se desobrigado de carregar o fardo das responsabilidades morais. Talvez isso explique o pouquíssimo apuro inquisitivo dos que recebem como verdadeiras as mirabolantes afirmações da doxa macroevolucionista.
(Marco Dourado, formado em Ciência da Computação pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)
Dia desses, eu falava a um amigo que não existe melhor ocupação que a de psicólogo evolutivo: não é preciso lá grande rigor técnico, basta que sua formulação, embora sem bases epistêmicas, apresente alguma coerência – e voilá! – o dogma evolucionista oferece o alicerce de justificação teórica, e a proposição psicológico-evolutiva ganha espaço em jornais, blogs e revistas.
Essa distorção lembrou minhas aulas de Metodologia Científica. Nosso professor era taxativo: “Lembrem-se sempre disso! Escrevam-no na testa e nas mãos! Em pesquisa científica, deve-se privilegiar o árido método em detrimento da aconchegante hipótese, mesmo quando aquele invalida essa!” Bingo, saudoso mestre!
Por isso, surpreende-me às vezes que um biólogo macroevolucionista busque testar suas hipóteses a partir de um estudo objetivo de campo em vez de tecer ilações a partir dos pressupostos do naturalismo filosófico contrabandeado no bojo da ciência.
Em outubro de 2005, o famoso zoólogo Desmond Morris, autor de livros como O Macaco Nu, falou ao jornalista Luis Amiguet, do La Vanguardia, na cidade de Barcelona. Seguem alguns trechos da entrevista traduzida e publicada na Folha On-Line (os destaques em negrito são de minha iniciativa):
LV: [O senhor] não tentou a poligamia habitual entre nossos irmãos primatas?
Morris: O homem na realidade é monógamo.
LV: Mesmo que guarde sua monogamia em segredo?
Morris: Você crê que é uma ironia, mas acaba de dizer uma grande verdade. Em muitas culturas o poderoso é obrigado a ser polígamo, porque a posse de muitas esposas é um sinal de status. Mas embora haja muitas concubinas sempre existe uma favorita: isso em pureza zoológica se chama monogamia.
LV: Ou seja, essa história de “duas mulheres ao mesmo tempo” é biologicamente improvável.
Morris: Pode haver duas mulheres ao mesmo tempo, mas na realidade há uma esposa e a outra. Sempre há uma que é A mulher. A outra tem um papel secundário que complementa mais ou menos o homem, mas seu investimento emocional, o homem o realiza só em uma mulher, uma companheira, embora :seja claro que esse lugar prioritário em seu afeto e sua economia possam ser ocupados por diversas mulheres sucessivamente.
LV: Por que somos seres de uma só mulher?
Morris: Porque só podemos nos ocupar realmente de uma prole, mesmo que possamos ter engendrado várias. E a natureza hierarquiza nossa dedicação para otimizar as possibilidades de êxito sucessório.
LV: Nunca houve um polígamo de verdade?
Morris: Eu e minha equipe de pesquisadores e antropólogos procuramos por todo o planeta pelo menos um caso de poligamia real, quer dizer, um polígamo que desse exatamente o mesmo tratamento a todas as suas fêmeas e aos descendentes que tivesse com cada uma.
LV: E...?
Morris: Não encontramos. Filmamos um famoso bruxo e cantor de rock nos Camarões que tinha chegado a colecionar 58 esposas...
LV: Deve ter sido terrível, coitado.
Morris: ...mas sempre tinha uma favorita.
LV: Ela. Sempre ela.
Morris: ...embora nosso bruxo roqueiro realizasse uma festa de casamento gigantesca cada vez que mudava de favorita.
LV: Como tantas celebridades do rock.
Morris: E todas as garotas do coro estavam casadas com ele! Na realidade era monógamo, mas para aparentar diante da tribo o pobre homem era obrigado a parecer polígamo.
LV: Extenuante.
Morris: A mesma coisa aconteceu com um rei do Taiti que pesquisamos: chegou a ter 28 esposas espalhadas pela ilha, cada uma em sua casa. Mas sempre havia uma com a qual passava mais tempo e cuja prole protegia com mais dedicação e recursos. O homem pode ter muitas companheiras, mas uma única dona.
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Apesar de discordar de partes dessa entrevista e do conjunto da obra de Morris, em especial do livro que ele divulgava à época, A Mulher Nua, não pude deixar de reconhecer-lhe a honestidade metodológica e também, por que não dizer?, sua honestidade moral. Embora encilhado com os arreios materialistas, a íntegra de sua entrevista é um maravilhoso encômio ao que possa haver de amor e pureza nas relações afetivas entre homens e mulheres.
Agora voltemos à fealdade destes nossos dias bicudos. Em Nuremberg, os acusados defendiam-se alegando estarem apenas cumprindo ordens. Imagino um adepto – sincero ou oportunista – das ideias de antropólogos como Jane Lancaster. Imagino o sujeito flagrado com as calças literalmente na mão: “Mas, meu bem, eu estava apenas cumprindo meu código genético!” Mais um pouco e estupradores vindicarão essa tese nos tribunais.
Certo, certo, nem todos os evolucionistas defendem a Síntese Evolutiva Moderna como jurisprudência biológica para a prática de atos socialmente reprováveis. Mas há um atrativo irresistível nas pretensões materialistas. Somando pragmatismo ao relativismo, o homem de hoje sente-se desobrigado de carregar o fardo das responsabilidades morais. Talvez isso explique o pouquíssimo apuro inquisitivo dos que recebem como verdadeiras as mirabolantes afirmações da doxa macroevolucionista.
(Marco Dourado, formado em Ciência da Computação pela UnB, com especialização em Administração em Banco de Dados)
(Criacionismo)
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