Na época do Natal sempre surge a pergunta: Em que mês do ano Jesus nasceu de fato?
A Bíblia nos fornece alguns detalhes que possibilitam uma aproximação da estação do ano em que Jesus nasceu. Nosso estudo vai se basear em Lucas 1, 2 e 1 Crônicas 24.
Esse estudo não pretende descartar as tradicionais celebrações de Natal no mundo cristão como "pagãs" ou "inválidas" porque supostamente não se baseiam na Bíblia. O autor ainda considera o Natal cristão em dezembro como a melhor época para se celebrar o nascimento de Cristo.
Lucas 1:5 diz que
"Houve nos dias do Rei Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias; e sua mulher era descendente de Arão, e chamava-se Isabel."
Zacarias era o pai de João Batista, que nasceu 6 meses antes de Jesus.
1 Crônicas 24 revela que os sacerdotes levitas foram organizados em 24 turmas para servirem no Templo e que Abias era da oitava turma (1 Crô. 24:10). Zacarias era da turma de Abias, ou seja, da oitava.
Cada turma servia 2 vezes por ano, cobrindo assim 48 semanas do ano judaico. Nas 3 semanas restantes celebravam-se festas em que todos os sacerdotes serviam juntamente: Páscoa, Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos.
Segundo o Talmude, o primeiro ciclo de sacerdotes como iniciava-se em Nisan 1 que no ano 5 A.C. corresponde a 8 de abril do nosso calendário. Começando a contagem desse dia, Zacarias serviria na oitava semana. Sendo assim o cronograma das turmas seria o seguinte:
8-15 de abril = 1a turma
15-22 de abril = 2a turma
22-29 de abril = Todas as turmas (Festa da Páscoa e Pães Asmos)
29 de abril - 6 de maio = 3a turma
6-13 de maio = 4a turma
13-20 de maio = 5a turma
20-27 de maio = 6a turma
27 de maio - 4 de junho = 7a turma
>> 4-11 de junho = 8a turma = Zacarias
>> 11-18 junho = Pentecostes = Todas as turmas
Sobre Zacarias, Lucas diz que "terminados os dias do seu ministério, voltou para casa" (Luc. 1:23), o que teria sido após o diz 18 de junho. Lucas 1:24 também revela que "depois desses dias Isabel, sua mulher concebeu". Algumas versões trazem "logo após esses dias" o que colocaria o início da gravidez de Isabel nas duas próximas semanas, entre 18 de junho e 1 de julho.
Lucas também revela que quando Isabel estava grávida de seis meses (Lucas 1:26, 36), Maria concebeu a Jesus pelo Espírito Santo. Calculando do período de duas semanas entre 18 junho a 1 julho, o sexto mês de Isabel seria entre meados a fins de dezembro.
Jesus teria sido concebido pelo Espírito Santo entre meados e fim de dezembro do ano 5 A.C. Isso colocaria o seu nascimento entre o fim de setembro e início de outubro do ano 4 A.C.. (dias 15-22 do mês Tishri).
O mês de Tishri era quando ocorria a Festa dos Tabernáculos, que envolvia todo o povo judaico, segundo Josefo, aproximamente dois milhões de Judeus. O censo e taxação dos judeus (Lucas 2:5) poderia ter ocorrido durante essa festa pois era justamente depois da colheita e o fim do ano civil, segundo os costumes judaicos da época. A festa juntamente com o censo também explicaria a falta de lugar nas pousadas de Belém, que era, segundo o Talmude, uma das cidades satélites de Jerusalém que comportava os adoradores.
Outras evidências textuais apóiam essa datação:
1. João usa a linguagem da Festa dos Tabernáculos para se referir a Jesus que "se fez carne e habitou (literamente "fez tabernáculo") entre nós" (João 1:14). João está se referindo a Isaías 7:14: "Será chamado Emanuel, Deus Conosco." A palavra grega para habitar aí é skene = habitar, fazer tabernáculo, e parece ter-se originado da palavra hebraica shachan= residir, de onde temos Shekinah, que era a presença de Deus no Tabernáculo.
2. João também usa a linguagem da Festa da Dedicação ou das Luzes (Hanukkah) que começava no dia 25 do mês judaico de Chislev, correspondente ao nosso dezembro, para se referir à encarnação de Jesus: "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens" (João 1:4-5, 8-9). Em João 10 onde essa Festa das Luzes é descrita, Jesus novamente se refere a sua encarnação, v. 36 "aquele a quem o Pai ... enviou ao mundo".
3. Jesus foi batizado com cerca de 30 anos (Luc. 3:23) e foi crucificado "no meio da semana" (Dan. 9:27) ou seja três anos e meio depois de sua "unção = batismo". Isso colocaria sua morte justamente na páscoa do ano 31 A.D. segundo Marcos 14:12, 15-25.
4. O anúncio das "novas de grande alegria para todo o povo" (Luc. 2:10) pelo anjo parece emprestar termos da Festa dos Tabernáculos, que deveria ser celebrada "com alegria" (Lev. 23:4). Essa festa também é a única em que todo o mundo é convidado a participar (Zac. 14:16-19).
Portanto, a época do ano em que Jesus nasceu é entre fim de setembro e início de outubro do ano 4 A.C..
Poderia-se, no entanto, objetar a essa datação dizendo que não é possível determinar com precisão quando Isabel teria engravidado. Ela poderia ter concebido mais tarde pois Zacarias só voltou ao serviço do Santuário para a Festa dos Tabernáculos, entre setembro e outubro. Nesse caso, o nascimento de Jesus poderia ser de 4 a 8 semanas depois da Festa dos Tabernáculos, colocando-o assim ainda mais perto do Natal cristão. Zacarias poderia estar também em seu segundo ciclo de serviço Templo o que seria em dezembro do ano 5A.C quando o anjo teria aparecido, o que colocaria a gravidez de Isabel de 8-10 semanas depois da Festa dos Tabernáculos.
No entanto um detalhe adicional nos permite manter a Festa dos Tabernáculos para a época do nascimento de Jesus: os pastores só guardavam as ovelhas à noite da Páscoa (meados de abril) até o início das chuvas (início do mês de outubro). Se João tivesse sido concebido em agosto ou setembro, isso colocaria o nascimento de Jesus no meio do inverno, época em que os pastores não poderiam estar nos campos à noite.
Por isso, é mais plausível colocar a gravidez de Isabel logo após "esses dias", ou seja, do ministério de Zacarias no Santuário que se encerraram dia 18 de junho do ano 5A.C.. Isso corrobora as outras evidências que vimos acima.
Aí surge a pergunta: Se Jesus não nasceu em dezembro, deveríamos parar de celebrar o Natal neste mês?
Não necessariamente pois tecnicamente falando, não é totalmente fora da realidade celebrar a encarnação em dezembro, pois Jesus teria sido concebido neste mês, durante a Festa das Luzes. Sendo assim, poderíamos expandir nossa celebração do Natal cristão incluindo a concepção de Jesus em dezembro que culminou no Seu nascimento 9 meses depois. Assim estaremos celebrando todo o evento da encarnação em dezembro!
Isso também não quer dizer que seria preferível celebrar uma festa hebraica como o Hanukkah ou uma versão moderna da Festa dos Tabernáculos em lugar do Natal. As festas são citadas aqui meramente para nos situarmos em termos de período no ano, não como uma defesa da celebração dessas festas em si. Essas festas eram "sombras" que apontavam àquele que celebramos hoje, Jesus.
Mas a maior razão a meu ver, e que também tem o apoio de Ellen White, para se celebrar o Natal em dezembro é o fato de que as celebrações do nascimento de Jesus em dezembro são tão enraizadas em todo o mundo cristão que seria imprudentetentar celebrar o Natal em outra data ou mesmo não celebrá-lo. Além de desperdiçarmos uma oportunidade evangelística, estaríamos colocando impecilhos em nosso testemunho, especialmente para as crianças em nosso meio. (Veja o capítulo "O Natal" no livro "O Lar Adventista").
Malaquias compara o nascimento do Messias ao nascimento do Sol (Mal. 4:2) e Jesus mesmo disse ser "a luz do mundo" (João 8:12). Isso deveria expandir a temática das luzes que vemos nas celebrações do Natal. Embora não haja consenso sobre ter ou não árvores de Natal e outros enfeites na Igreja nesta época, sem dúvida todos podemos concordar que "luz" é um lindo símbolo de Jesus e encher nossas igrejas de luzes neste período seria bastante apropriado.
Neste período em que as pessoas estão mais abertas às coisas espirituais, façamos de nossas igrejas símbolos iluminados de Jesus, a Luz do Mundo!
(Adventismo Relevante)
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