A maioria das pessoas que tem acesso ao material da campanha Quebrando o Silêncio pensa em outras pessoas como agentes de violência. Porém, no fim do ano de 2008, passei por algo que me fez repensar minhas atitudes.
Sou pai de duas crianças (Lívia, de seis anos, e Kalel, de cinco) e sempre brincamos no Natal. Como cristãos, explicamos o real significado dessa data e temos, em família, o costume de surpreender nossos filhos com presentes que são colocados embaixo da famosa árvore. E são várias bugigangas que eles recebem de mim, minha esposa, tios e avós. Como bônus, na semana do Natal, sempre “aparece”, antecipadamente, um ou outro brinquedo embaixo da árvore.
Também nutrimos a ideia da existência do Papai Noel, contrariando até coleguinhas e professores da Lívia que diziam que ele não existe. Para o Natal de 2008, havia uma promessa especial em nossa brincadeira: a Lívia e o Kalel conheceriam o Papai Noel deles. Comprei minha fantasia vermelha, ensaiei meu melhor Ho! Ho! Ho! e curti muito a expectativa dos meus pequenos. Finalmente minha esposa e eu nos revelaríamos para eles.
Porém, uma semana antes do Natal, a Lívia fez algo merecedor de disciplina.
Como ferramenta de educação, armei-me de uma varinha e disse para a Lívia:
- Não está certo o que você fez e eu já chamei sua atenção várias vezes a esse respeito. Você sabe que precisa de castigo, não sabe?
- Sim, pai! – disse ela, sem tirar os olhos da varinha – Eu sei.
- Vou dar duas escolhas para você – falei, pensando que era uma grande oportunidade de ensinar, também, sobre escolhas. – Qual castigo você quer: duas varadas, ou ficar sem os presentes e a brincadeira de Natal?
Na minha mente, a resposta era óbvia: a Lívia escolheria a varinha, afinal, qual criança do mundo abriria mão de brincar no Natal e ganhar presentes? Mas a resposta me surpreendeu. Com uma lágrima rolando antecipadamente pela bochecha rosada, a Lívia disse:
- Pai, eu fico sem o Natal, mas, por favor, não em bate.
Fiquei sem chão. Não imaginava que aquela vara doesse tanto no corpo e na mente da minha filha. Arrependi-me de ter feito a proposta; arrependi-me de usar a varinha como ferramenta rápida e “eficaz” para disciplina. Naquele momento, eu era o agressor da minha filha.
Palmadas, chineladas, varadas, gritos, sempre são muito eficazes. É como jogar água fria numa fogueira. Como as crianças estão em constante (e barulhento) movimento, esses meios de correção imediatos podem ser banalizados pelos pais. Mas o quanto isso lesiona o corpo e a autoestima de nossos filhos?
A agressão pode ser verbal e descontrolada, falando impropérios para nossos pequenos. Geralmente as palavras ferem muito mais do que imaginamos, machucando a estima dos filhos e degradando seus sentimentos. Principalmente, nossas palavras podem colocar dúvida na mente pueril dos filhos quanto ao amor que sentimos por eles.
Se palavras machucam, as ações de violência contra uma criança também. Chineladas, varadas, palmadas, quando fizerem parte dos recursos de disciplina dos pais, devem ser utilizadas, no mínimo, com muita moderação e apenas para casos extremos. Os pais devem avaliar, inclusive, qual a frequência e intensidade com que usam tais recursos.
Depois de ficar um tempo sem palavras, olhei para minha filha à minha frente e perguntei:
- Dói muito a varada?
- Dói – ela disse.
Meu coração mole de pai, então, deu uma nova alternativa:
- Vamos fazer o seguinte: dou uma varada apenas, e mais fraca. Assim você pode brincar o Natal e ter seus presentes.
A Lívia aceitou e levou a varada mais leve de sua vida, pois, diante da violência do próprio pai, ela quebrou o silêncio e revelou o quanto aquilo a machucava.
(Denis Cruz é advogado e autor do livro Além da Magia)
(Criacionismo)
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