A revista Visão desta semana traz como artigo de capa, um estudo que não sei muito bem como devo qualificar.
O título 'Jesus é de esquerda ou de direita?' leva-nos a pensar que se trata de uma avaliação rigorosa da vida e obras de Cristo tentando identificá-las como uma daquelas alas políticas. Para isso, foram consultados, principalmente, alguns teólogos e políticos, sendo pedida a sua interpretação da mensagem de Cristo à luz dos problemas do século XXI.
E quais são alguns desses problemas? As manifestações populares de descontentamento com os governos, a questão da fome e pobreza, a homossexualidade, entre outros.
Jaime Nogueira Pinto, professor universitário, conotado com a direita, não consegue atribuir a Jesus uma clara orientação política. Refere que Ele propõe uma 'revolução interior, de espírito, para criar um homem novo', mas não hesita em acusar os esquerdistas revolucionários de apropriação da linguagem evangélica para criarem um discurso que justifique os grandes ideias defendidos, bem como os horríveis crimes praticados.
O Padre franciscano Carreira das Neves, um dos mais mediáticos católicos portugueses, defende, quiçá estranhamente, que pelo fato de Jesus 'andar com os desclassificados, marginalizados e desfavorecidos', Ele seria de esquerda. Curiosamente, para explicar a ilustração de ser mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no reino dos céus, o Padre sugere que os ricos não pertencem à fraternidade de Cristo, sendo muito difícil lá entrarem, algo que os ideólogos de direita não ficarão muito satisfeitos em ouvir.
A este propósito, João César das Neves, economista algo ligado à igreja, acredita que 'há pobres muito mais ligados aos bens materiais do que os ricos', admitindo também que a história seja dirigida aos 'capitalistas de direita'.
José Manuel Pureza, deputado pelo Bloco de Esquerda (talvez a força política mais empenhada nas questões de legalização do aborto e homossexualidade), diz que foi com base nos seus princípios cristãos (Pureza é católico) que apoiou o aborto. E sugere que pelo fato de Cristo ter sido um transformador, nunca seria de direita.
No entanto, e voltando a César das Neves, o economista tem uma afirmação que achei deveras curiosa acerca de algumas causas normalmente defendidas pela esquerda política. Diz ele: 'a discussão sobre o aborto, sobre a eutanásia, sobre o casamento dos gays, vem ao arrepio das necessidades do povo. É apenas uma forma da esquerda polir os seus emblemas, de manter, artificialmente, a sua agenda. São problemas gratuitos, para inteletuais das alas maçónicas e anticlericais'. Nem me atrevo a comentar...
Agora veja a posição de Ana Vicente, escritora, que tem uma frase que não hesito em classificar de blasfema: 'Jesus alinharia pelos casamentos dos homossexuais, pois se Deus criou heterossexuais e homossexuais, quem somos nós para perseguir pessoas criadas por Deus?'
Seguramente, Ana Vicente nunca leu uma única linha da Bíblia sobre a criação. Se o tivesse feito, teria facilmente constatado que Jesus criou um casal heterossexual e não qualquer homossexual.
No entanto, ela aponta, com razão, que ainda recentemente, o governo socialista (de esquerda) português aprovou leis que facilitam fortemente o divórcio, contra o qual Jesus falou. Eu acrescento que o mesmo governo se prepara para, por sua inciativa, legalizar o casamento homossexual.
Assim, vemos que diversas e discutíveis interpretações podem ser feitas nos ensinamentos e da vida de Jesus.
No entanto, um elemento fica evidente: este debate, e outros semelhantes, reduzem a figura de Jesus a um puro humanista. De fato, são válidas muitas das causas que os entrevistados conseguem ver defendidas na pessoa de Jesus; mas, é só isso? Um homem de causas nobres e justas, um revolucionário? Será que Jesus não vai além, e muito, de tudo isso?
Claro que vai! Ele é o Salvador do mundo. E este tipo de análise, corre o grave risco, mesmo com teólogos pelo meio, de O tornar apenas uma personagem mais da História, sendo apresentado muito mais vezes como um ativista, do que na função que O trouxe até este mundo: salvar o pecador que estava perdido.
Na minha perspetiva, tanto encontraremos posições tradicionais de direita como de ruptura esquerdista na vida de Jesus - sem que, repare bem, eu seja capaz de O conotar com qualquer ideologia política, como modernamente o entendemos.
Mas isto acontece porque Ele sempre de posicionava ao lado do que era certo, correto, justo e o melhor para o homem, sem comprometer minimamente os princípios que Ele próprio tinha criado. O que, claramente, não é defendido por qualquer dos entrevistados no artigo da Visão.
Mas deixo-lhe ainda uma outra sugestão: no cumprimento de Sua elevada missão, ele foi erguido numa rude cruz. E aí, ele não estava à direita, nem à esquerda; Ele ficou ao centro! Teremos aqui a resposta final para este debate?...
(O Tempo Final)
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