quarta-feira, 19 de maio de 2010

Cada vez mais barro e menos ferro nos pés da estátua

O jornal Folha de S. Paulo, de 11 de maio, publicou artigo interessante de João Pereira Coutinho, dando conta de que a situação na Europa é preocupante. Foi providenciado um pacote de ajuda internacional (110 bilhões de euros) que, segundo os especialistas, não evitará a falência e a saída do euro. "Os gregos são nossa imagem futura", diz Coutinho sobre os portugueses. "Aliás, não apenas a nossa. Existem apostas sobre as próximas vítimas. Portugal lidera a corrida. A Espanha vem a seguir. Depois a Irlanda. Depois a Itália. Eis os PIIGS, para usar o acrônimo suíno com que os países do Norte olham para o clube. Estamos todos no mesmo chiqueiro. Ou não? Verdade: o deficit português está cinco pontos abaixo do grego, por exemplo. Mas, em contrapartida, o total das nossas dívidas é maior, o que dificulta um crescimento econômico no médio prazo. E, talvez mais importante, os nossos problemas econômicos radicam na mesma falência moral. Palavras pesadas? Talvez. Mas quando falamos de 'moralidade', falamos apenas da justeza de certos comportamentos humanos. E o comportamento dos portugueses, juntamente com os dos seus irmãos porquinhos, é a explicação principal para o atual desarranjo. Se dúvidas houvesse, bastaria assistir a um noticiário luso. Eu assisto, todos os dias. E todos os dias pasmo com a clarividência dos meus compatriotas, que não toleram qualquer medida de austeridade para tapar o abismo das finanças públicas. [...]

Coutinho faz uma comparação: "Não existe almoço grátis. Mas os portugueses e restantes parceiros viveram em Marte. E acreditaram que seria possível não produzir como os alemães, mas consumir como eles. [...] Como escrevia recentemente Theodore Dalrymple no City Journal, o comportamento das massas foi promovido pela corrupção democrática dos seus líderes. Foi promovido por governos sucessivos que, alçados ao poder, alimentavam a fantasia do bolso infinito, uma forma indireta de subornarem os seus eleitorados."

E conclui: "Os gregos não foram apenas fraudulentos na forma como manipularam seus indicadores econômicos para enganar Bruxelas. A fraude grega é a fraude portuguesa, ou espanhola, ou irlandesa, ou italiana. É a fraude de professar que é possível viver continuamente acima das posses de cada um. Azar. Com a crise financeira de 2008, e a imperiosa necessidade de salvar as economias do abismo, as dívidas dispararam para a estratosfera e a Europa olhou-se no espelho pela primeira vez. Sobretudo a Europa periférica, que vivia de empréstimos para pagar empréstimos, um perfeito esquema Ponzi que aterrorizou os mercados. E agora? Antes do euro, a desvalorização da moeda era o caminho lógico para aumentar a competitividade das economias. Por outras palavras: os países empobreciam voluntariamente, mas eles continuavam a flutuar. Com o euro, a desvalorização está interdita aos países relapsos. Mas a fatura será igual: empobrecer. E, quem sabe, um dia contar aos netos que a festa foi boa enquanto durou."

Nota: O criativo título desta postagem foi sugerido pelo amigo Marco Dourado, que comentou comigo: "A Europa está enrascada: vulcão interrompendo o tráfego aéreo, o fantasma do terrorismo... E agora esse abraço coletivo de afogados por causa da moeda única, o Euro, que impede a penalização individual dos países irresponsáveis." Essa situação me fez viajar no tempo, 20 anos atrás. Na época, exatamente no dia 27 de outubro de 1990, eu havia apresentado o tema da volta de Jesus no grupo de jovens católico do qual eu ainda fazia parte. Poucos meses antes, estudando as profecias de Daniel, havia me deparado com o relato impressionante do capítulo 2, no qual a história da humanidade é esboçada por meio de uma estátua formada por partes de metais diferentes: a cabeça de ouro, que representa Babilônia; o peito e os braços de prata, símbolo dos medos e persas; o ventre de bronze, que representa a Grécia; as pernas de ferro, símbolo do Império Romano; e os pés de barro misturado com ferro (na verdade uma mistura imiscível), representando a fragmentação do Império Romano e a formação das nações da Europa que seriam em parte fortes, em parte fracas e nunca mais se reunificariam, a despeito de vários esforços históricos. Quando expliquei isso para meus amigos, muitos deles expressaram incredulidade. Estávamos em plena fase 1 da União Econômica e Monetária (UEM) e já havia ocorrido a liberalização completa dos movimentos de capitais na União Europeia. Em dezembro do ano seguinte, o Tratado de Maastricht seria assinado, instaurando a União Europeia e prevendo uma moeda única no espaço de livre circulação de capitais. O tratado entrou em vigor em 1º novembro de 1993. A unificação da Europa parecia fato consumado. E "minha" interpretação da profecia, ilusão. Saí daquela reunião um tanto frustrado, mas com a certeza de que a profecia era certa. Tanto que escrevi num papelzinho que carrego até hoje dentro de minha Bíblia de estudos: "Hoje, 27/10/90, de acordo com a profecia de Daniel 2, declaro que a Europa jamais se reunificará, como prova do iminente retorno de Jesus Cristo." O tempo passou rápido. A Europa não se reunificou; a União Soviética (sim, também sou desse tempo) caiu; e o evangelho do reino está sendo pregado em todo o mundo, como testemunho a todas as gentes, e então virá o fim (Mt 24:14). Amém![MB]

(Criacionismo)

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