Imagine que um antigo filósofo grego surgisse em pleno século 20 e se matriculasse numa faculdade de teologia liberal, dessas que relativizam a autoridade bíblica. Mais: imagine que esse filósofo fosse o inquiridor Sócrates, considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Qual seria o teor das discussões do ateniense com os alunos e professores? Como o filósofo que se opunha ao politeísmo grego reagiria à leitura do Antigo e do Novo Testamentos? Como encararia Jesus Cristo e as alegações quanto à divindade e a ressurreição dEle? É disso – e muito mais – que tratam as duzentas páginas do livro Sócrates e Jesus (editora Vida), de Peter Kreeft, professor de Filosofia no Boston College.
Tive que ler esse livro em cumprimento parcial dos requisitos da disciplina de Filosofia, em meu curso de Estudos em Teologia, no Unasp. E fiquei fascinado. Não tanto pela ficção, em si (o desfecho até deixa a desejar), mas pelos diálogos habilmente construídos pelo autor.
“Jesus e Sócrates são certamente os dois homens mais influentes que já existiram, pois dão origem aos dois segmentos da civilização ocidental: a cultura bíblica (judaico-cristã) e a clássica (greco-romana)”, escreveu Kreeft logo na Introdução. Portanto, é o tipo de leitura que ajuda até mesmo a entender as bases sobre as quais nossa própria cultura está edificada.
Cristão e admirador de Sócrates, Kreeft se vale do filósofo para criticar a noção moderna de progresso, os valores da cultura ocidental e a forma como os cristãos nominais encaram o cristianismo. Se eu fosse resumir numa única frase o conteúdo da obra, seria: a razão em busca da verdade. Mas a verdade pode ser encontrada? “Sócrates” entende que sim e responde socraticamente com uma pergunta: “Se você não tem esperança de chegar, então como pode viajar esperançosamente? Não há pelo que esperar” (p. 39).
Na página 62, há o seguinte diálogo interessante:
“Bertha [colega de faculdade de “Sócrates”]: Eu apenas interpreto [a Bíblia] à luz das minhas convicções honestas.
“Sócrates: Mas você não poderia interpretar qualquer livro e quaisquer palavras de outro à luz das convicções deles em vez das suas?”
Vinte e quatro páginas adiante: “Se você escrevesse um livro para contar aos outros quais são as suas crenças, e eu o lesse e o interpretasse segundo as minhas crenças, que seriam diferentes das suas, ficaria feliz?” É exatamente isto que o Sócrates de Kreeft faz ao longo do livro: analisa as Escrituras sem preconceitos (já que ele não os tem, por ter vivido 400 anos antes de Cristo e não ter tido contato com a cultura judaica) e propõe que o leitor faça o mesmo, permitindo que elas falem por si mesmas, sem ser interpretadas.
Nessa busca pela verdade, “Sócrates” acaba tendo um “encontro” com Jesus e com o verdadeiro cristianismo que salta das páginas do Novo Testamento e que contrasta com o arremedo de cristianismo que muitos vivem atualmente.
Na página 138, outro personagem do livro cita Chesterton e diz que uma mente aberta é semelhante a uma boca aberta: só é útil se houver alguma coisa sólida para mastigar.
O livro de Kreeft estimula o pensamento e o ato de abrir a mente, mas oferece alimento sólido para ocupar o espaço. Por isso, merece ser lido.
Michelson Borges
Tive que ler esse livro em cumprimento parcial dos requisitos da disciplina de Filosofia, em meu curso de Estudos em Teologia, no Unasp. E fiquei fascinado. Não tanto pela ficção, em si (o desfecho até deixa a desejar), mas pelos diálogos habilmente construídos pelo autor.
“Jesus e Sócrates são certamente os dois homens mais influentes que já existiram, pois dão origem aos dois segmentos da civilização ocidental: a cultura bíblica (judaico-cristã) e a clássica (greco-romana)”, escreveu Kreeft logo na Introdução. Portanto, é o tipo de leitura que ajuda até mesmo a entender as bases sobre as quais nossa própria cultura está edificada.
Cristão e admirador de Sócrates, Kreeft se vale do filósofo para criticar a noção moderna de progresso, os valores da cultura ocidental e a forma como os cristãos nominais encaram o cristianismo. Se eu fosse resumir numa única frase o conteúdo da obra, seria: a razão em busca da verdade. Mas a verdade pode ser encontrada? “Sócrates” entende que sim e responde socraticamente com uma pergunta: “Se você não tem esperança de chegar, então como pode viajar esperançosamente? Não há pelo que esperar” (p. 39).
Na página 62, há o seguinte diálogo interessante:
“Bertha [colega de faculdade de “Sócrates”]: Eu apenas interpreto [a Bíblia] à luz das minhas convicções honestas.
“Sócrates: Mas você não poderia interpretar qualquer livro e quaisquer palavras de outro à luz das convicções deles em vez das suas?”
Vinte e quatro páginas adiante: “Se você escrevesse um livro para contar aos outros quais são as suas crenças, e eu o lesse e o interpretasse segundo as minhas crenças, que seriam diferentes das suas, ficaria feliz?” É exatamente isto que o Sócrates de Kreeft faz ao longo do livro: analisa as Escrituras sem preconceitos (já que ele não os tem, por ter vivido 400 anos antes de Cristo e não ter tido contato com a cultura judaica) e propõe que o leitor faça o mesmo, permitindo que elas falem por si mesmas, sem ser interpretadas.
Nessa busca pela verdade, “Sócrates” acaba tendo um “encontro” com Jesus e com o verdadeiro cristianismo que salta das páginas do Novo Testamento e que contrasta com o arremedo de cristianismo que muitos vivem atualmente.
Na página 138, outro personagem do livro cita Chesterton e diz que uma mente aberta é semelhante a uma boca aberta: só é útil se houver alguma coisa sólida para mastigar.
O livro de Kreeft estimula o pensamento e o ato de abrir a mente, mas oferece alimento sólido para ocupar o espaço. Por isso, merece ser lido.
Michelson Borges
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