Não são poucas as vezes que temos ouvido falar de ética em nossos púlpitos. Algumas vezes a palavra não chega a ser pronunciada, mas percebemos pregadores falar dentro da “ética” para não ferir ninguém. Até aonde podemos ser éticos sem ferir os preceitos da Verdade? Ou Verdade é Verdade e deve ser dita mesmo que demande a perda de nossos privilégios? Será que, em se tratando de salvação e perdição, não devemos falar a verdade? Seria isso agir dentro da ética?
Neste breve artigo iremos analisar essas questões e tentar encontrar respostas para elas.
Definição de Ética
O termo ética procedeu do grego ethos, que significa caráter ou a personalidade de uma pessoa. Podemos definir ética como um conjunto de princípios e valores morais que orientam a conduta do homem. Aurélio define ética como um “estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto” (Dicionário Aurélio, 2000).
Cada grupo de profissionais elabora seu código de ética. Cada sociedade tem seu conjunto de valores e princípios que determinam sua ética. O objetivo da ética é alcançar um equilíbrio, socialmente falando, para que ninguém seja prejudicado.
Não podemos deixar de considerar que, ao contrário dos princípios bíblicos, os valores morais da sociedade têm mudado no decorrer dos séculos. Por exemplo, nas sociedades antigas possuir escravos era perfeitamente legítimo; as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem liberdade era considerado normal. Outro bom exemplo é fato de até pouco tempo atrás as mulheres serem consideradas inferiores aos homens, e, portanto, não merecedoras de direitos iguais. Outro exemplo ainda era que na Idade Média, a tortura era considerada prática legítima, seja para a extorsão de confissões, seja como castigo. Hoje, tal prática é repudiada pela maioria das pessoas e é considerada imoral. Portanto, a moralidade humana é formada dentro do contexto histórico e social, por esse motivo sofreu alterações no decorrer da história, como também sofre alterações de acordo com a cultura social em que está inserida. Em alguns países, por exemplo, é ético sacrificar animais para fins científicos, já em outros, isso é totalmente objetável.
Portanto, a ética é feita dentro da sociedade ou grupo de pessoas das quais fazemos parte. Todos podem criar seus valores éticos, que muitas vezes, serão antiéticos para outros.
Um Equilíbrio Indesejado
O que falar para uma pessoa que nos tem ajudado em muitas coisas, que ocupa uma determinada posição na igreja, que desempenha um papel fundamental diante de muitos, que ela está errada em alguns conceitos bíblicos? O que falar para um grupo de pessoas que tem desempenhado um grande trabalho na igreja e que seus resultados têm sido satisfatórios; suas ofertas e seus dízimos têm ajudado na manutenção da obra, mas que, em alguns pontos de interesse eterno, tem esse grupo de pessoas praticado atos que são inaceitáveis para Deus?
Para alguns (ou a maioria), a solução para esses e outros casos seria encontrar um equilíbrio entre o certo e o errado; não declarar a verdade tão claramente, mas fazer uma boa relação entre o bem e o mal, para que ninguém saia ofendido. Seria isso uma ação corroborada pelas Escrituras Sagradas? Afinal, vivemos pela norma de Sola Scriptura. Tendo em vista que estamos neste mundo, mas não pertencemos a ele, pois buscamos uma pátria celestial (Romanos 12: 2; Hebreus 11: 13-16; Filipenses 3: 20), não devemos reger nossos princípios e valores morais pelas Escrituras Sagradas? Então, qual a orientação bíblica para solucionar esses casos?
Falar ou fazer o certo em equilíbrio com o que é errado é bíblico?
O conceito de criar um equilíbrio entre o certo e o errado bate de frente com a orientação bíblica, pois não existe equilíbrio entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. Essa concepção foi elaborada nas reuniões demoníacas dirigidas por Satanás. Não foi à toa que Deus nomeou a Árvore da Ciência do Bem e do Mal como representante do governo luciferiano, dando ainda forte advertência para não comer do seu fruto (Gênesis 2: 17). Essa advertência não foi atendida por Adão e Eva, como também não tem sido atendida por muitos nos dias atuais. Tiago afirmou que “a vossa [nossa] palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais em condenação” (Tiago 5: 12. Colchetes acrescentados). Apesar que Tiago está abordando o tema do juramento e o valor que a palavra do cristão deve ter, o mesmo princípio é perfeitamente aplicável à posição que cada cristão deve tomar em relação ao que é certo ou errado.
Satanás faz muitos pensar e agir como se não houvesse necessidade de falar tão claramente a respeito de um determinado assunto de interesse eterno. Isso se dar devido a muitas vezes o assunto gerar polêmica e ferir um determinado grupo ou pessoa. Essa prática tem deixado a muitos no limiar das trevas da dúvida, sem saber que posição tomar. Muitos membros estão à espera de uma posição da igreja a respeito de diversos temas polêmicos para poder tomar uma decisão, e, enquanto essa posição não for tomada, milhares continuarão agindo de acordo com a consciência (Juízes 21: 25), e isso é extremamente perigoso, pois é a salvação que está em jogo, e a consciência humana não é um guia seguro (Provérbios 16: 25; Jeremias 17: 9). Oro todos os dias para que a liderança da igreja tome uma posição claramente definida quanto a vários assuntos que tem colocado em xeque a salvação da igreja. A salvação é individual, mas - como líderes espirituais - podemos contribuir para a salvação ou perdição de muitos, e isso será recompensado ou cobrado de cada um de nós (Ezequiel 33:2-9).
Sabemos que a salvação é pela fé em Cristo, mas não podemos esquecer que só seremos salvos se deixarmos Cristo realizar Sua obra de Justificação em nós. A Justificação pela Fé nos salva dos nossos pecados e não em nossos pecados. Jesus nos justificou na cruz, é certo, mas agora Ele quer realizar sua obra em cada um de nós. Essa obra só pode ser realizada se permitirmos que Cristo nos faça uma nova criatura. George Knigth afirmou que "...um cristão pode viver vitoriosamente ao nascer do alto pelo Espírito Santo. Nisso consiste o segredo do viver cristão, segundo a ordem da mensagem de 1888." A Mensagem de 1888, p. 175. Para vivermos um vida vitoriosa sobre o pecado precisamos conhecer o que é pecado e solicitar ajuda do alto para vencer. A igreja tem a obrigação de mostrar o que é pecado aos seus membros.
Compreendo que todas as decisões da liderança da igreja deve ser tomada somente depois de fortes evidências bíblicas, para que não deixe dúvidas. Acredito na administração desta igreja e creio que ela está indo em busca de um forte alicerce para poder se declarar sobre diversos assuntos como música, saúde, e outros temas que sofreram diversas influências mundanas.
Não conhecemos mais as nossas músicas, antes quando elas eram tocadas, rapidamente identificávamos como sendo músicas adventistas; com raras exceções, tal não acontece hoje, pois a grande maioria está parecida com o rock, pop rock, rock romântico e etc. Não se conhece mais um adventista em um restaurante ou em uma lanchonete; nosso patrão de saúde está caindo rapidamente. Não se conhece mais um casal adventista namorando. Onde está o exemplo de família e criação de filhos, ensinado e defendido pelas Escrituras? Não se conhece mais um adventista em uma locadora de vídeo. Não se conhece mais um adventista da forma como se veste e se comporta na rua, no serviço, em casa. Foram tantas as mudanças que estamos perdendo nossa identidade - se é que já não perdemos.
Princípios e valores morais bíblicos que orientam a ética da verdade
1. O exemplo de Cristo
“E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas à aparência dos homens.” Mateus 22:16.
Jesus sempre falou a verdade sem se importar com qualquer pessoa que estivesse presente. Ele não estava preocupado com a ética utilizada em nossos púlpitos nos dias atuais. Claro que em suas palavras havia amor, mas a verdade não era reprimida. Um episódio bem conhecido por todos foi a sua demonstração de total desaprovação quanto ao que o povo estava fazendo no templo (Mateus 21: 12-13). Essa ação foi um dos pontos decisivos para que fosse planejada sua prisão e morte. Quem de nós seria capaz de fazer tal ação sabendo que isso poderia comprometer nossa liberdade e, até mesmo, a nossa vida? Onde estava a ética de Cristo nessa e em outras ações? O conjunto dos valores morais de Cristo, que dão origem à sua ética, são regidos pelo amor. É o amor que O faz repreender, disciplinar, corrigir, educar a igreja a quem ama (II Timóteo 3:16; Apocalipse 3: 19), pois se não fizer isso, verá sua amada igreja perder-se para sempre. A ética de Cristo é o amor que o guia para a salvação. Sua ética não é a ética deste mundo.
O que você faria percebendo que seu filho está prestes a cometer um grave erro que poderá causar sua infelicidade para sempre? Você ficaria calado e deixaria acontecer? Agiria dentro da ética com medo de magoar o filho, encontrando um equilíbrio entre o erro do filho e a verdade? Ou faria todo o possível para tentar fazer com que seu filho corrija o erro, mostrando a verdade? A resposta é óbvia. Todos nós faríamos o que for necessário para proporcionar a nosso filho uma felicidade verdadeira.
2. O exemplo de João Batista
“Porque Herodes tinha prendido João, e tinha-o maniatado e encerrado no cárcere, por causa de Herodias, mulher do seu irmão Filipe; Porque João lhe dissera: Não te é lícito possuí-la.” Mateus 14: 3-4.
João Batista perdeu a vida por que falou a verdade. Não se importou se Herodes era rei; simplesmente falou a verdade. Essa é a verdadeira ética guiada pelo amor. Nem sempre as pessoas aceitam a verdade, porém ela deve ser dita, mesmo que isso demande a perda de nossa própria vida. Quem ama não fica calado diante do erro; o verdadeiro amigo é aquele que adverte o outro do erro; quem o faz enxergar seu estado e voltar-se para a verdade. Mas infelizmente muitos não aceitam ser repreendidos.
3. O Exemplo de Natan
“Então o furor de Davi se acendeu, em grande maneira, contra aquele homem, e disse a Natan: Vive o Senhor, que digno de morte é o homem que fez isso... Então disse Natan a Davi: Tu és este homem.” II Samuel 12: 5 e7.
Natan, usado por Deus, advertiu Davi de seu grave erro. Ao contrário de Herodes, Davi de arrependeu. Devemos falar a verdade por que, mesmo que muitos possam desaprovar, muitos podem aceitar a advertência e serem salvos. Essa é a ética do amor.
4. O exemplo de Elias
“E sucedeu que, vendo Acabe a Elias, disse-lhe Acabe: És tu o perturbador de Israel? Então disse ele: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa do teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor, e seguistes aos Baalins.” I Reis 18: 17-18.
Sobre esse caso deixarei Ellen White comentar, pois ela faz um resumo dos casos aqui apresentados, seu resumo confirma a ética bíblica de falar a verdade com amor e por amor, independente de quem quer que seja.
“Há necessidade hoje da voz de severa repreensão, pois graves pecados têm separado de Deus o povo. A infidelidade está depressa tornando-se moda. 'Não queremos que Este reine sobre nós' (Luc. 19:14), é a linguagem de milhares. Os sermões macios tão freqüentemente pregados não deixam impressão duradoura; a trombeta não dá um sonido certo. Os homens não são atingidos no coração pelas claras, cortantes verdades da Palavra de Deus.
“Há muitos professos cristãos que, se expressassem seus reais sentimentos, diriam: Que necessidade há de falar tão claramente? Seria o mesmo que perguntar: Que necessidade havia de João Batista dizer aos fariseus: 'Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?' Luc. 3:7. Que necessidade tinha ele de provocar a ira de Herodias dizendo a Herodes que não lhe era lícito possuir a mulher de seu irmão? O precursor de Cristo perdeu a vida por falar claramente. Por que não podia ele ter prosseguido sem incorrer no desprazer dos que estavam vivendo em pecado?
“...Quando será a voz da fiel reprovação ouvida uma vez mais na igreja?
“Os... que apreciam agradar aos homens, que clamam: Paz, paz, quando Deus não falou de paz, bem deviam humilhar o coração perante Deus, pedindo perdão por sua insinceridade e falta de coragem moral. Não é por amor ao próximo que eles abrandam a mensagem que lhes é confiada, mas porque são indulgentes para consigo mesmos e amam a vida fácil. O verdadeiro amor busca primeiro a honra a Deus e a salvação das almas. Os que possuem este amor não se esquivarão à verdade para se abrigarem dos incômodos resultados de falar claramente. Quando almas estão em perigo, os ministros de Deus não considerarão o eu, mas falarão a palavra que lhes é ordenada, recusando desculpar ou atenuar o mal...
“Deus chama homens como Elias, Natã e João Batista - homens que levarão fielmente Sua mensagem sem considerar as conseqüências; que corajosamente falarão a verdade, ainda que isso signifique o sacrifício de tudo que possuem. Deus não pode usar homens que, em tempos de perigo, quando a força, a coragem e a influência de todos são necessárias, temem tomar uma firme posição pelo direito. Ele chama a homens para que se empenhem fielmente na batalha contra o erro, guerreando contra principados e potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as forças espirituais da maldade nos lugares celestiais. A tais é que Ele dirigirá as palavras: 'Bem está, bom e fiel servo... entra no gozo do teu Senhor.' Mat. 25:23.” Profetas e Reis, 141 e 142.
Toda a verdade deve ser pronunciada com amor; não podemos mostrar os erros sem mostrar Cristo como solução para eles. Isso deve ficar bem claro. Outro ponto que gostaria de deixar claro é o fato que todos têm o livre arbítrio; não podemos obrigar a ninguém a cumprir com a verdade se não deseja fazê-lo; devemos amar-lo igualmente a qualquer outro que aceite viver os preceitos da verdade. O que podemos fazer é apenas orar por todos. E lembre-se sempre: odiar o pecado, mas amar incondicionalmente o pecador é uma ordem Divina.
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