Apesar de não ser gaúcho, fico impressionado com o orgulho que esse povo tem do seu Estado. Encontrei diversos “guris” e “gurias” em várias viagens fora do Rio Grande do Sul e o sentimento deles é sempre o mesmo: saudades do Estado amado! Mas nem todo mundo é assim...
Israel Finkelstein, o co-autor da obra E a Bíblia Não Tinha Razão (Girafa, 2003) e arqueólogo judeu, vem tentando destruir, por meio de suas pesquisas e publicações, o passado glorioso do seu próprio povo, os hebreus. Na realidade, Finkelstein é um dos arqueólogos atuais que têm se esforçado para demonstrar que a antiga amizade entre as Escrituras Sagradas e a arqueologia Bíblia, não combina mais![1]
Tive a oportunidade de ouvir o Dr. Finkelstein, no ano passado, em Porto Alegre, RS. Um dos professores de história da UFRGS, Josué Berlessi, foi um dos organizadores do evento “Religião e Racionalidade: A história bíblica e a investigação arqueológica”, que além da presença do arqueólogo judeu da Universidade de Tel Aviv, contou com a participação do Dr. Nelson Kilpp, da Escola Superior de Teologia (EST) de São Leopoldo, RS. Além de muito simpático, Finkelstein demonstra dominar bem sua disciplina, já que ele a desenvolve há mais de 30 anos.
Sua abordagem na palestra girou em torno de uma metodologia de pesquisa desenvolvida em cinco tópicos:
1. Não havia atividade escribal em Canaã antes do 8º século a.C., ou seja, nenhum livro bíblico foi produzido antes dessa data.
2. Não havia o ofício de inventor de histórias; o que temos nas Escrituras hebraicas são apenas tradições orais muito provavelmente deturpadas ao longo dos séculos.
3. Todo texto deve ser comparado com fontes arqueológicas e do Antigo Oriente Médio. Se a informação bíblia não for amparada por documentação arqueológica, ela é falsa.
4. A história não pode ser transmitida com alterações, mas pode receber elementos da época em que a tradição oral estava sendo contada.
5. Boa parte dos escritos bíblicos está repleta da perspectiva teológica do autor.
Nas linhas abaixo, nosso foco estará entre os tópicos 1 e 3.
Atividade escribal antes do 8º século a.C. O argumento do Dr. Finkelstein sobre esse assunto pode ser sumarizado assim: não há qualquer registro arqueológico que demonstre atividade escribal em Canaã, que seja anterior ao 8º século a.C. Sendo assim, torna-se difícil imaginar a autoria de documentos numa data anterior a essa.
As implicações dessa ideia são profundas: o Pentateuco de Moisés, o livro de Josué, os Salmos dravídicos, os Provérbios de Salomão não teriam sido escritos por esses famosos personagens bíblicos.
No entanto, excelentes estudos literários foram produzidos por eruditos de renome que oferecem uma visão mais ampla sobre esse assunto. Duas das maiores autoridades em texto bíblico do século passado, Frank Moore Cross Jr. (Harvard) e David Noel Freedman (UCLA, em San Diego, Califórnia), publicaram interessante estudo sobre algumas porções do texto bíblico que remontam, sem sombra de dúvida, a uma data anterior ao ano 1000 a.C. É o caso de Juízes 5, o cântico de Débora, Êxodo 15, o cântico de Mirian, Salmo 18, entre outros.[2]
O mesmo pode ser dito dos trabalhos de Kenneth Kitchen, respeitado egiptólogo e professor emérito na Universidade de Liverpool, na Inglaterra. Em 1995, o Dr. Kitchen publicou um excelente artigo na Biblical Archaeology Review sobre o período patriarcal, oferecendo diversas evidências (linguísticas, literárias, históricas, etc.) para monstrar quão sólida é a narrativa patriarcal, demonstrando assim que seu autor era alguém familiarizado com aquela cultura e com aquela época. O artigo pode ser lido aqui.
No momento de perguntas e respostas, no evento com o Dr. Finkelstein, perguntei-lhe a respeito das pesquisas e conclusões do Dr. Kitchen. Ao invés de responder os argumentos levantados pelo egiptólogo britânico, ele simplesmente disse: “Eu não posso concordar com um erudito que afirma que toda a Bíblia é a Palavra de Deus.” E passou para próxima pergunta!
Acredito que esses nomes mencionados acima oferecem excelentes argumentos para a refutação dessa premissa do Dr. Finkelstein.
A informação bíblica e a arqueologia. Diversas narrativas bíblicas são consideradas mitológicas ou não históricas pelos críticos simplesmente por não dispormos de nenhuma documentação extra-bíblica ou arqueológica – o famoso argumento do silêncio. Mas como bem disse Carl Sagan, “ausência de evidência não é evidência de ausência”. Um ótimo exemplo disso é a estela de Tel Dan, contendo o nome de Davi, encontrada em 1993. (Confira aqui.)
Uma categoria de arqueólogos chamada de minimalistas (aqueles que reduzem a narrativa bíblica a um simples conto não histórico) considera como improvável a descrição bíblica de Jerusalém ser a capital de um reino, por volta do ano 1000 a.C., na época de Davi e Salomão. Para eles, Jerusalém nem sequer era uma cidade significativa nesse período.
Mas na última segunda feira (22/2), uma descoberta arqueológica está fazendo com que os minimalistas refaçam suas anotações sobre o reinado de Salomão. A arqueóloga Eilat Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, anunciou que sua equipe encontrou uma muralha de aproximadamente 70 metros e um portal bem decorado, que datam de aproximadamente 1000 a.C. A datação está baseada em fragmentos de cerâmicas encontrados junto ao muro, uma técnica largamente utilizada por arqueólogos. Sua conclusão até o momento é que esse prédio pode estar relacionado ao governo de Salomão, no 10º século a.C, como mencionado em 1 Reis.
Se a conclusão de Mazar estiver correta, Jerusalém pode ter sido um grande centro político por volta do ano 1000 a.C., ao contrário do que afirmam os minimalistas. Mas ainda é cedo para ser dogmáticos com qualquer conclusão que vá além dessa. Devemos esperar por publicações em periódicos especializados, como a já mencionada Biblical Archaeology Review e outras revistas indexadas.
O debate em torno da Bíblia e de fontes antigas está longe de ter fim. Pelo contrário, o que se vê é aumento do interesse do público sobre esse tipo de assunto. Como cristãos, devemos aproveitar o momento e “estarmos sempre preparados para dar a razão da esperança que há no nosso coração” (1Pd 3:15).
(Luiz Gustavo Assis, pastor adventista em Caxias do Sul, RS) e (Criacionismo)
Israel Finkelstein, o co-autor da obra E a Bíblia Não Tinha Razão (Girafa, 2003) e arqueólogo judeu, vem tentando destruir, por meio de suas pesquisas e publicações, o passado glorioso do seu próprio povo, os hebreus. Na realidade, Finkelstein é um dos arqueólogos atuais que têm se esforçado para demonstrar que a antiga amizade entre as Escrituras Sagradas e a arqueologia Bíblia, não combina mais![1]
Tive a oportunidade de ouvir o Dr. Finkelstein, no ano passado, em Porto Alegre, RS. Um dos professores de história da UFRGS, Josué Berlessi, foi um dos organizadores do evento “Religião e Racionalidade: A história bíblica e a investigação arqueológica”, que além da presença do arqueólogo judeu da Universidade de Tel Aviv, contou com a participação do Dr. Nelson Kilpp, da Escola Superior de Teologia (EST) de São Leopoldo, RS. Além de muito simpático, Finkelstein demonstra dominar bem sua disciplina, já que ele a desenvolve há mais de 30 anos.
Sua abordagem na palestra girou em torno de uma metodologia de pesquisa desenvolvida em cinco tópicos:
1. Não havia atividade escribal em Canaã antes do 8º século a.C., ou seja, nenhum livro bíblico foi produzido antes dessa data.
2. Não havia o ofício de inventor de histórias; o que temos nas Escrituras hebraicas são apenas tradições orais muito provavelmente deturpadas ao longo dos séculos.
3. Todo texto deve ser comparado com fontes arqueológicas e do Antigo Oriente Médio. Se a informação bíblia não for amparada por documentação arqueológica, ela é falsa.
4. A história não pode ser transmitida com alterações, mas pode receber elementos da época em que a tradição oral estava sendo contada.
5. Boa parte dos escritos bíblicos está repleta da perspectiva teológica do autor.
Nas linhas abaixo, nosso foco estará entre os tópicos 1 e 3.
Atividade escribal antes do 8º século a.C. O argumento do Dr. Finkelstein sobre esse assunto pode ser sumarizado assim: não há qualquer registro arqueológico que demonstre atividade escribal em Canaã, que seja anterior ao 8º século a.C. Sendo assim, torna-se difícil imaginar a autoria de documentos numa data anterior a essa.
As implicações dessa ideia são profundas: o Pentateuco de Moisés, o livro de Josué, os Salmos dravídicos, os Provérbios de Salomão não teriam sido escritos por esses famosos personagens bíblicos.
No entanto, excelentes estudos literários foram produzidos por eruditos de renome que oferecem uma visão mais ampla sobre esse assunto. Duas das maiores autoridades em texto bíblico do século passado, Frank Moore Cross Jr. (Harvard) e David Noel Freedman (UCLA, em San Diego, Califórnia), publicaram interessante estudo sobre algumas porções do texto bíblico que remontam, sem sombra de dúvida, a uma data anterior ao ano 1000 a.C. É o caso de Juízes 5, o cântico de Débora, Êxodo 15, o cântico de Mirian, Salmo 18, entre outros.[2]
O mesmo pode ser dito dos trabalhos de Kenneth Kitchen, respeitado egiptólogo e professor emérito na Universidade de Liverpool, na Inglaterra. Em 1995, o Dr. Kitchen publicou um excelente artigo na Biblical Archaeology Review sobre o período patriarcal, oferecendo diversas evidências (linguísticas, literárias, históricas, etc.) para monstrar quão sólida é a narrativa patriarcal, demonstrando assim que seu autor era alguém familiarizado com aquela cultura e com aquela época. O artigo pode ser lido aqui.
No momento de perguntas e respostas, no evento com o Dr. Finkelstein, perguntei-lhe a respeito das pesquisas e conclusões do Dr. Kitchen. Ao invés de responder os argumentos levantados pelo egiptólogo britânico, ele simplesmente disse: “Eu não posso concordar com um erudito que afirma que toda a Bíblia é a Palavra de Deus.” E passou para próxima pergunta!
Acredito que esses nomes mencionados acima oferecem excelentes argumentos para a refutação dessa premissa do Dr. Finkelstein.
A informação bíblica e a arqueologia. Diversas narrativas bíblicas são consideradas mitológicas ou não históricas pelos críticos simplesmente por não dispormos de nenhuma documentação extra-bíblica ou arqueológica – o famoso argumento do silêncio. Mas como bem disse Carl Sagan, “ausência de evidência não é evidência de ausência”. Um ótimo exemplo disso é a estela de Tel Dan, contendo o nome de Davi, encontrada em 1993. (Confira aqui.)
Uma categoria de arqueólogos chamada de minimalistas (aqueles que reduzem a narrativa bíblica a um simples conto não histórico) considera como improvável a descrição bíblica de Jerusalém ser a capital de um reino, por volta do ano 1000 a.C., na época de Davi e Salomão. Para eles, Jerusalém nem sequer era uma cidade significativa nesse período.
Mas na última segunda feira (22/2), uma descoberta arqueológica está fazendo com que os minimalistas refaçam suas anotações sobre o reinado de Salomão. A arqueóloga Eilat Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, anunciou que sua equipe encontrou uma muralha de aproximadamente 70 metros e um portal bem decorado, que datam de aproximadamente 1000 a.C. A datação está baseada em fragmentos de cerâmicas encontrados junto ao muro, uma técnica largamente utilizada por arqueólogos. Sua conclusão até o momento é que esse prédio pode estar relacionado ao governo de Salomão, no 10º século a.C, como mencionado em 1 Reis.
Se a conclusão de Mazar estiver correta, Jerusalém pode ter sido um grande centro político por volta do ano 1000 a.C., ao contrário do que afirmam os minimalistas. Mas ainda é cedo para ser dogmáticos com qualquer conclusão que vá além dessa. Devemos esperar por publicações em periódicos especializados, como a já mencionada Biblical Archaeology Review e outras revistas indexadas.
O debate em torno da Bíblia e de fontes antigas está longe de ter fim. Pelo contrário, o que se vê é aumento do interesse do público sobre esse tipo de assunto. Como cristãos, devemos aproveitar o momento e “estarmos sempre preparados para dar a razão da esperança que há no nosso coração” (1Pd 3:15).
(Luiz Gustavo Assis, pastor adventista em Caxias do Sul, RS) e (Criacionismo)
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